Talking Heads – Pessoas Burras

08/12/2006

Calça – Pessoas são burras.
Bermuda – Sim…
Calça – Pessoas são burras e a gente está cansado de saber…
Bermuda – Hahaha.
Calça – Estudando, a gente soube… os professores falavam: “cara, as pessoas são burras”.
Bermuda – As pessoas são muito burras.
Calça – Então, ao mesmo tempo que você tem que contar uma boa história, você tem que pensar: “as pessoas são burras, então eu tenho que contar de um jeito que no fim das contas fica aquele ‘Aaah… entendi!’” Mas a questão agora nem é história, isso é choramingo de roteirista.
Bermuda – Essa é uma questão que eu, particularmente, já desencanei. Eu espero que quem vá ler minhas histórias tenha pelo menos terminado a quarta série…
Calça – É! Eu faço histórias pras pessoas até quarta série! Eu… Eu sei que as pessoas são burras.
Bermuda – Noventa porcento não chegou na quarta série.
Calça – Mas o problema agora é desenho. Desenho é…
Bermuda – Chega! Chega dessas pessoas que não entendem nada de desenho e ficam batendo uma pra essas coisas horrorosas que se acha na rua.
Calça – Não, tipo, Alex Ross. Alex Ross é bonito… é brega? É brega, mas é bonito, é muito muito foda… Não é o negócio mais “que do caralho”, mas o cara é foda.
Bermuda – O cara manja.
Calça – O cara manja. Mas o problema é quando as pessoas acham que desenho realista, ou pseudo-realista…
Bermuda – …É tudo o que existe, é o que é bom…
Calça – É! Não é bom. Não acho que isso é bom, até porque no estilizado, você pega o realista, você manja do realista, de anatomia e tudo mais, e você começa a fazer o seu traço. É muito mais foda, demora muito mais tempo.
Bermuda – É um processo criativo maior, não é só você ficar olhando uma fotinho de alguém e ficar copiando. Essas pessoas que ficam copiando foto e aí a mãe chega e fala “Aaah! Que bunitu!” e os amigos chegam e falam “Aaah! Que bunitu!” Não! Não!
Calça – Não, não e não!
Bermuda – Chega disso!
Calça – É que nem eu comentei a um tempo atrás… Eu fiz um storyboard prum amigo meu que faz publicidade. Tipo, ele me chamou, não é porque eu sou bom. É porque eu sou o único que ele conhece.
Bermuda – Hahaha…
Calça – Então ele me chamou pra: primeiro, me dar uma força; segundo, porque ele achava que eu ia cobrar barato, que ele é muito muquirana; e terceiro, porque eu sou o único que ele conhecia. Ele teria que caçar gente, e era um negócio muito pra ontem. Porque eles são desorganizados. Beleza. Aí ele me passou as idéias do negócio e fiz um desenho do meu estilo, estilizado, só pra ele falar mal. Porque eu queria ver a cara dele quando ele visse, sabe… E foi muito o que eu pensei. Ele fez uma cara de decepcionado e falou “Meu, eu achava que você desenhava melhor”. Aí eu comecei a falr sobre estilizado, estilização e o caralho. Aí ele falou assim pra mim uma hora: “Tá, eu entendi, mas a questão é que as pessoas comuns, que olham anúncios, essas coisas, não têm a menor idéia, a mais vaga noção do que é desenho. Então, pra ela, tanto faz! Porque tá bonitinho, tá uma coisa mais realista, e cheia de tracinho…
Bermuda – É o que as pessoas acham que é bonito, “olha, ele se deu ao trabalho de fazer um monte de tracinho!”
Calça – Cheio de detalhe, então a pessoa acha mais bonito. Beleza. Daí eu expliquei pra ele o que era punhetar um desenho.
Bermuda – Hehehe…
Calça – Que é esse termo bonito e gentil, que significa que você tá pondo tracinho onde não tem que ter tracinho, e um monte de rachura onde não tem que ter rachura. Pra parecer que você desenha melhor, existe a teoria que quanto mais detalhe, você desenha melhor.
Bermuda – Não é verdade, não é verdade.
Calça – Mas pras pessoas que não entendem, isso é verdade.
Bermuda – Mas não é verdade!
Calça – Não é verdade de verdade, mas pra ela é mais real, ela olha e fala “Parece mais bem feito, que você terminou o desenho.” O que é uma puta idiotice! Aí eu fiz e ele achou melhor desse jeito, mas mesmo assim, eu acho que ele nunca mais vai me chamar pra nada, porque ele acha que eu não desenho do jeito que ele acha que eu devia. Do jeito que ele acha que anúncio devia ser. E tudo bem, até que eu entendo isso, mas é uma coisa muito idiota. E, no fim das contas, ele estava certo, porque as pessoas são burras, e eu estava certo, porque as pessoas não entendem o que eu quis passar. Não que eu desenhe bem pra caralho e eu que estou certo! A questão é que as pessoas sao idiotas.
Bermuda – Chega, chega, chega…
Calça – Tipo, olha Mike Mignola e fala que é ruim.
Bermuda – E daí olha o carinha que fica no ponto de ônibus que desenha mais ou menos realista e desenha mais ou menos realista e diz “nooooossa, como você desenha bem!” Não!
Calça – Não é isso.
Bermuda – Não, ele é um idiota, ele pega foto e copia.
Calça – Estilizado é bom e as pessoas são burras. Ponto.

Ah, nós desistimos de pôr os diálogos em mp3. Percebemos que realmente não estamos com saco de descobrir como fazer isso e que ninguém ia querer ouvir mesmo.


Talking Heads – $1.000.000

30/11/2006

Calça – Aí ganharemos uma puta grana violenta… Tsc!
Bermuda – Ahã. Com certeza.
Calça – Uma puta grana violenta é tipo um milhão de dólares…
Bermuda – De libras ester… de lingotes de ouro.
Calça – Se eu tivesse um milhão de dólares, não faria mais nada! Eu ia viver modestamente, ia pôr o bagulho no banco e ia deixar.
Bermuda – Rendendo.
Calça – Renderia quanto, por mês? Um milhão? Cem mil por mês? Dez mil por mês, pelo menos?
Bermuda – Dez mil por mês, ia durar quanto isso, um milhão?
Calça – Se eu gastasse dez mil por mês?
Bermuda – …Cem meses.
Calça – Rendendo?
Bermuda – Rendendo eu não sei, mas duraria cem meses sem render nada. Se eu fiz a conta certa, vai dar…
Calça – Como eu não gasto dez mil por mês, agora…
Bermuda – Ahã… Xô ver se eu fiz a conta certa…
Calça – Não, se eu gastasse dois mil por mês.
Bermuda – Dois pau por mês?… Você gastaria um pouquinho mais para viver um pouquinho melhor! Conta cinco mil!
Calça – Cinco mil! Eu gasto cinco mil por mês, gastando obviamente tudo em supérfluos e… bobagens, que eu quiser…
Bermuda – É, mas você ainda teria que pagar aluguel e…
Calça – Dentro do nível… Não, claro, eu pago aluguel e… eu compro roupa, compro comida…
Bermuda – Calculator.
Calça – Agora que eu tenho dinheiro, eu compro CDs e livros e… vou no cinema sempre.
Bermuda – Um milhão! Um, dois três, um dois três, um dois três…
Calça – É dentro de uma tabela de três mil por mês.
Bermuda – Acho que eu pûs três demais. São seis zeros, né? Um milhão?
Calça – É.
Bermuda – Seis zeros. Um milhão. Dividido… por cinco mil? Duzentos meses.
Calça – Nossa, quantos são duzentos meses?
Bermuda – Dezesseis anos.
Calça – Eu vivo dezesseis anos… gastando cinco mil reais por mês…
Bermuda – Cinco mil dólares por mês.
Calça – Cinco mil dólares! Então eu vivo dezess…
Bermuda – Então, é aquela coisa. Se você viver aqui, cinco mil dólares por mês… dá uns doze mil reais.
Calça – Na verdade estou gastando doze mil reais por mês!
Bermuda – Ahã.
Calça – Que é uma puta grana.
Bermuda – É uma boa grana, é uma boa grana… Cê vira um ah… classe média alta vivendo bem!
Calça – É! Tô gastando doze mil reais por mês por dezesseis anos sem fazer absolutamente nada! Fazendo isso, né? Claro, né! Eu vivo dezesseis anos mais legais na vida!
Bermuda – Na verdade, acho que você vai viver uns dezoito anos vivendo assim.
Calça – Sem fazer nada!
Bermuda – Sem fazer nada, só deixando o dinheiro render…

Mais tarde colocaremos o diálogo na íntegra em mp3 pra vocês ouvirem. Basta a gente aprender como fazer isso.


Talking Heads – O zine e a Mari

29/09/2006

CARIELLO -Esse fanzine tem duas falhas: eu não quero comer a Mari Alexandre e o próximo número não tá demorando muito, meu?
CALÇA – Como não come, Cariello? Claro que come, rapaiz! Conversar com ela é que deve ser chato… Ela é um padrão universal, anatômico, funcional e gostosa pra caralho!
FERRARA – Olha, o zine tá ducacete, ri paca. Só que padrão universal não existe. Pelo menos pra mim que o meu padrão que tem que ter olhos puxados…
CAMPOS – A pobre da Mari Alexandre é uma injustiçada! Tem umas dessas menininhas gostosinhas que são MUITO mais burras do que ela! Vcs podiam fazer uma história mostrando isso… no mundo das menininhas burrinhas e gostosas ela é uma espécie de Einstein! Reflitam sobre isso… façam justiça!
CALÇA – Dominar o mundo e pegar a bela Mari Alexandre (o mito, a lenda, as peitolonas, a injustiçada) é quase um dever cívico para o cidadão quadrinista patriótico ciente de seus deveres enquanto morto de fome.
BERMUDA (com um megafone) – Garantam já o seu!!! Ajudem pobres roteiristas a dominarem o mundo! E a fornicarem a Mari Alexandre! É só um real!!!
FIGURANTE 1 – Ao invez da Mari Alexandre nao pode ser a Ellen Roche? ou a Mulher Samambaia?
FIGURANTE 2 – Primeiro vejam as fotos da Mari Alexandre e compare com as da Roche para ver qual é a mais boazuda de verdade (Figurante passa fotos a Calça).
CALÇA – Caros Figurantes 1 e 2: Muito obrigado por nos presentear com dezenas de fotos de loiras peitudas peladas. De coração. Este debate é importantíssimo, não entendo o descaso de certas pessoas. Falar acerca do que instiga um quadrinista! Que edificante! Mas esqueçeram a Cida Marques e até a Xuxa, que é retardada, mas peituda e gostosa. A mulher Samambaia é maravilhosa, mas é morena, e estamos em meio a um protesto/manifesto sobre a banalização das loiras gostosas. Talvez uma ONG seja aberta.

E isso não tem fim…